sexta-feira, 19 de maio de 2017

Desabafos de uma Advogada, no dia do Advogado!

Dou muitas vezes por mim a pensar "porque raio escolheste este curso?!"

Não é fácil, não é.
Ninguém nos avisa.
É duro.

Matérias pesadas, livros enormes, teoria, teoria, mais teoria. Alguma, ou muita, com pouca utilidade para a vida profissional.

Sei que nesse aspecto fui privilegiada, pelo factor Universidade, uma vez que frequentei uma das melhores faculdades de Direito do País, a Católica. 
(Obrigada meus queridos paizinhos).

Mas sei que foi duro, com exames desastrosos pela frente, porque não nos preparam para a faculdade. 
Pelo menos eu tinha um método de estudo que deixava um pouco a desejar. 
Pensávamos que estudar o mesmo que estudávamos nos exames do Secundário seria suficiente. Pois não era!

Durante os dois primeiros anos do curso, a vontade maior foi sempre uma: desistir!
Não o fiz. 
Continuei com incentivos de familiares e por vontade própria. 
Com altos e baixos, mas continuei, sem desistir e consegui! 
De cartola, bengala e lágrimas: consegui. 
Foi um dia feliz!

Se durante o curso estás ansioso para que termine, pensas que o melhor está por vir, pois lamento, mas estás redondamente enganado.

Não há melhor tempo do que aquele que passámos no secundário e na faculdade. 
Sem preocupações, livres, leves e soltos, e sempre, ou quase sempre, felizes.

Depois surgem mais indecisões.
"Vou para a Ordem?!"
"Faço a tese do mestrado e tento o CJ?!"
"Fico por aqui?! Tento encontrar emprego como jurista?!"

Pois, no meu caso a primeira hipótese foi a escolha.

"Vamos lá, venha a Ordem"....

Mais uma batalha! 
Das duras.

Deparas-te com um Bastonário amado pelo povo, diziam que era alguém "sem papas na língua", tal como todos gostam.

Na verdade, nem todos gostam. 
Os Estagiários não gostam. 
Não gostam de ver os emolumentos a triplicar, alguns a terem até de ficar pelo caminho, pois não tinham suporte financeiro para acarretar tal mudança. Além de tantas outras coisas.

Começa o estágio, não remunerado (não é obrigatória a remuneração).
Inicialmente estabelecem um prazo de duração do mesmo.
Esqueçam lá isso. 
Será sempre mais longo, mesmo que sejas aprovada em todas as fases, como foi o caso.

Tens uma fase inicial de um estágio com mais teoria. 
Começas a lidar com a tramitação processual, a vida no escritório, os clientes, a profissão.

No final dessa primeira fase, enfrentas uma semana de exames, segunda, quarta e sexta, com toda a matéria e mais alguma, das 09h às 17h00.

Vem a segunda fase, aí já mais prática.
Com a obrigatoriedade das intervenções, assistências, relatórios. 
O tribunal. 
As togas, as becas.
Os cumprimentos, elogios e alegações.

No final da mesma, mais um exame do demo, com matéria suficiente para uns 5 exames. 
Mas não. 
É só um. 

Depois desse, a oral.

Para uns exploração, para outros não.

Para uns aprendizagem, para outros não.

Para uns bom, para outros mau.

Assim termina o estágio.

És Advogada! 

"Ai que maravilha, vou apenas trabalhar na área que mais gosto e ganhar dinheirinho."

Bem, as coisas não são, nem pouco mais ou menos, assim.

És advogado, psicólogo, assistente social, terapeuta e até padre.

Tens de estar sempre disponível, a qualquer hora do dia, talvez da noite.

Engoles sapos, ganhas causas e perdes. 
Umas vezes justa outras injustamente.

Vives as coisas. 
Por isso é que muitas vezes descarregas nas pessoas mais próximas. Não com intenção, ou com maldade. Mas onde está o escape?! 

Como poder sair do escritório e não pensar em prazos?! Não sei.

Como sair do escritório e não estar triste pela absolvição de alguém por insuficiência de prova?! Não sei.

Não dá para desligar a ficha, nem o botão. 
É a vida. 
A que tu escolheste.

No final, não trabalhas apenas nas áreas que mais gostas. 
Não podes. 
Pelo menos eu não posso. 
Talvez chegue a esse dia. 
Com mais anos de prática, de experiência, de estudo e de conhecimento.

Não podes parar. Tens sempre de actualizar, como as leis.

Mas no final, também sei que foi por isso que escolhi o Direito. Pela luta. Tenho de ter sempre coisas para resolver.

Escolhi ainda mais pelos direitos humanos. 

Pela possibilidade de poder ajudar alguém.

Serei sempre a eterna insatisfeita, a que quer mais. 
Conhecer mais, saber mais, ajudar mais. 

Quem sabe então conseguir mudar um bocadinho o mundo, o de todos ou o de alguém!

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